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A ÚLTIMA FESTA - THE HUNTING PARTY




Se você ainda não conhece a autora Lucy Foley, está na hora de conhecer. A inglesa é considerada a nova Agatha Christie. A Última Festa é sua obra de estreia na literatura de suspense, após a publicação de três romances históricos.


No livro, cujo título original é bem mais apropriado do que o traduzido (como quase sempre), Lucy traz uma história eletrizante, narrada de pontos de vista de cinco personagens diferentes, com alternância entre momento presente e flashbacks.


Um grupo de amigos da época da faculdade, atualmente na faixa dos 35 anos, se reúnem em uma luxuosa e isolada propriedade no Reino Unido para celebrar a véspera do ano novo. As complexas e sensíveis relações e dinâmicas de poder existentes entre os antigos colegas são desnudadas pela autora com maestria, deixando clara a tensão que cerca todos os presentes.


Desentendimentos antigos, segredos improváveis, frustrações pessoais, ressentimentos e dissimulações permeiam a confraternização, tudo regado a muito vinho, champanhe e sorrisos forçados.


Como em todo grande grupo, existem os elementos populares, os que sutilmente (ou nem tanto assim) ditam as regras da convivência, e os que vivem à sua sombra, ressentidos e digladiando-se por autoafirmação. Foley escancara os sentimentos da Abelha Rainha, revelando também as mazelas de seu status, assim como o faz com a comum melhor amiga súdita.


Na festa de ano novo, em meio a uma nevasca, um dos amigos desaparece, sendo seu corpo encontrado no outro dia, sendo inquestionáveis os sinais de assassinato. Pela construção da narrativa, fica evidente que todos do grupo são suspeitos e a mente do leitor não consegue parar de girar, tentando descobrir, antes da revelação final, o autor do crime.


A escrita de Lucy Foley é inteligente, afiada e aguça ao limite a curiosidade do leitor. A paisagem é lindamente descrita, trazendo o frio, a beleza e a solidão do inverno britânico de maneira sinestésica para as páginas.

O livro trata da extensa complexidade dos relacionamentos duradouros, do paradoxal dualismo entre amor e ódio, das armadilhas da devoção e da indiferença, e das consequências de precisar voltar os olhos para o outro a fim de construir sua própria identidade.


The Hunting Party é para ser devorado em poucos dias. Selvagem, como a paisagem e a decoração, lembra-nos que temos todos um lado primitivo, caçador e caça. E que, ao final do dia, ninguém conhece ninguém.




Raissa Lopes Domingos


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