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Dra. Anna Fox e todos nós na Janela





O livro A Mulher na Janela, de A.J. Finn, inspirou o filme homônimo do Netflix, com as grandes atrizes Amy Adams e Julianne Moore despontando no elenco.


Apesar das naturais adaptações de enredo, necessárias à transposição do livro para o filme, ambos dialogam bem, não decepcionando o leitor que se apaixonou pela obra e foi conferir a história nas telas.


A história prende a atenção do início ao fim, rapidamente enredando o leitor no mistério central e levando a sua cabeça a giros e mais giros na tentativa de desvendar a realidade por trás dos relatos pouco ou nada confiáveis da protagonista, a Dra. Anna Fox, uma terapeuta que sofre de agorafobia (pânico de transitar em lugares públicos e grandes espaços abertos).


Em razão da sua condição, Anna se encontra há meses trancada em sua enorme casa, na companhia apenas do seu gato, filmes antigos, sua máquina fotográfica e muitas garrafas de vinho.


Solitária, observar os vizinhos do outro lado do parque com sua câmera tornou-se seu passatempo favorito. Até que ela testemunha um crime brutal, através de suas lentes, cujas repercussões a levarão a lugares sombrios de sua alma, obrigando-a a enfrentar seu passado, além dos seus piores medos, a fim de resguardar tudo o que lhe é mais caro.


O livro é muito bem estruturado e fluido, um grande feito para uma história focada quase que 100% em uma só personagem. Apesar de ficarmos o tempo todo enclausurados junto com Anna Fox, mostrou-se fácil apreciar a sua companhia, tendo o autor desenhado uma protagonista cativante.


Em que pese o livro ter sido publicado em 2018, me parece perfeitamente acertado o lançamento do filme pela plataforma de streaming em 2021, pois a temática do confinamento da heroína torna-se rico objeto de identificação e reflexão pelo público.


Enquanto a pandemia nos obrigou a permanecer em casa, Anna Fox pode mas não consegue sair de casa, pois sente que o mundo lá fora vai desmoronar sobre ela em toda a sua força e imensidão. Contempla, então, a vida acontecer da sua janela.


Por outro lado, as longas partidas de xadrez online, os incontáveis filmes e livros devorados, as excessivas taças de vinho, o tédio, a angústia do isolamento, a saudade de amigos e parentes, estranhamente se tornaram - em maior ou menor escala - familiares a todos nós.


É improvável não se solidarizar com o sofrimento ou não se identificar com a rotina de Anna, pois foi a nossa por muitos meses, até poucas semanas atrás.


A obra é um thriller psicológico denso e que vale à pena ser lido, sobretudo nesse momento quase pós-pandêmico, não ficando para trás a produção do Netflix abrilhantada pelas atuações impecáveis de Adams e Moore.


A Mulher na Janela é sobre todos nós. Nós e nossa sede de voltar a existir no mundo, para além das nossas quatro paredes. É sobre as nossas batalhas interiores intermináveis, mais desgastantes, muitas vezes, que as travadas no mundo exterior. É sobre ser forte para encarar os nossos fantasmas e poder enfim voltar para casa, para si, por inteiro, e ser livre para entrar e sair quando bem desejarmos.


Eu garanto uma reviravolta surpreendente no final. Corre pra conferir!



Raissa Lopes Domingos




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